
O desafio de comunicar diante de novas tecnologias foi tema central de oficina da UNI Américas e Contraf-CUT

Cerca de 40 dirigentes e assessores, que atuam na imprensa de entidades sindicais do ramo financeiro, se reuniram na capital paulista para o "Whorkshop de comunicação e atuação em redes", realizado pela UNI Américas e Contraf-CUT, segunda (17) e terça-feira (18).
Carolina González, Assistente de Comunicação da UNI Américas (braço regional da UNI Global Union nas Américas), abordou as estratégias de comunicação para os sindicatos. "Fortalecer a identidade e a unidade interna; tornar visível as reivindicações; ganhar o apoio da sociedade; pressionar empresas e governos; e atrair novos filiados: todos esses são pontos importantes ao movimento sindical e que precisam ter a comunicação como ferramenta estratégica para convencer e alcançar as transformações que as entidades buscam", explicou.
A especialista ressaltou que comunicação estratégica "não é comunicar por comunicar" e sim "comunicar com propósito, planejando o (1) como, (2) o que, (3) quando e (4) para quem” se deseja comunicar. "É fundamental que as mensagens inspirem os trabalhadores, para isso, precisamos considerar o 'tom' da comunicação que realizamos de forma a criar conexão com a audiência; humanizar o sindicato ao público e fazê-lo refletir sobre a cultura sindical, gerando coerência e credibilidade", acentuou. "O dado informa, o tom inspira", completou.
Carolina González também foi taxativa sobre a necessidade de as peças de comunicação terem como elementos-chave mensagens claras e narrativas que conectem a mensagem com a vida real.
A segunda atividade da oficina, com o título "Como temos usado a comunicação na organização sindical?", foi realizada por Peter Barton Kuhns, Organizador Lead Brasil da UNI Américas, cargo relacionado à coordenação de atividades de captação de pessoas para dentro do movimento sindical.
Kuhns mostrou, na prática, as estratégias que a UNI vem realizando para ajudar cuidadores de idosos e profissionais da Tecnologia da Informação (TI) na criação de seus próprios movimentos sindicais. Além do contato direto e humano, indo até esses trabalhadores para conhecer suas demandas, a entidade utiliza ativamente as ferramentas digitais, de acordo com cada público.
"Como o Facebook, por exemplo, é uma rede mais utilizada hoje por pessoas nem tão jovens, se tornou a nossa principal mídia para a formação da Rede de Cuidadoras e Cuidadores do Brasil, porque geralmente esses são profissionais mais maduros em termos de idade", destacou. Ele explicou ainda como utilizaram ferramentas, como a central de anúncios do Facebook, para orientar as publicações ao público-alvo, ou seja, trabalhadoras e trabalhadores com perfil de cuidadoras e cuidadores. Com isso, em menos de um ano, a UNI conseguiu formar uma comunidade de mais de mil seguidores à página da Rede de Cuidadoras e Cuidadores do Brasil, que segue em expansão.
Já no caso dos profissionais de TI, Kuhns ressaltou o LinkedIn como uma ferramenta eficiente para conhecer o perfil e reunir dessa categoria, geralmente formada por pessoas mais jovens.
Experiencia da Contraf-CUT e do Seeb-SP
Os responsáveis pelas redes sociais da Contraf-CUT, Henrique Guilherme Batista, e do Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP), Erica de Oliveira (secretária de Comunicação e Imprensa da entidade), apontaram os desafios do dia a dia na comunicação de redes, além dos números que revelam conquistas nessa trajetória de defender a narrativa do movimento sindical e dos direitos trabalhistas tanto à categoria quanto à população no geral.
"Estamos em todas as redes, porque o bancário está em todo o lugar. Então, a nossa estratégia é multiplataforma: o site é o carro-chefe, a mãe de todas as publicações, de onde derivamos todas as outras formas de comunicação que vão para as demais plataformas, desde a folha imprensa (que é o material que é entregue nas mãos dos bancários, nas ruas), passando pelas redes sociais, WhatsApp e o conteúdo elaborado pela assessorai de imprensa, que é a voz do sindicato para os meios de comunicação externos", explicou Erica de Oliveira.
Guilherme, por sua vez, ressaltou que os objetivos da Contraf-CUT nas redes sociais vão além da divulgação de informações produzidas pela própria Confederação, incluindo a elaboração conjunta de conteúdos com as federações e sindicatos representados pela entidade. "Diante desse esforço, para atingir o máximo em público, focamos ainda na criação de materiais sobre assuntos de interesse da categoria e da população em geral, que envolvem justiça social, direitos das minorias e sustentabilidade. Porque partimos da premissa de que se um tema interessa ao trabalhador, também interessa ao movimento sindical", pontuou.
O profissional de redes da Contraf-CUT reforçou ainda que um dos pilares para o desempenho das mídias da entidade são as postagens colaborativas com influencers. "As parcerias com os influencers, em especial, são importantes para aumentar o público, ampliam o alcance das nossas publicações ao furar a bolha do movimento sindical", explicou.
Ferramentas digitais ao alcance de um celular
O primeiro dia do "Workshop de comunicação e atuação em redes" teve também a colaboração da especialista em Comunicação e Marketing, Nathalia Helena Madeiros Santos, e que já passou por entidades como a WWF, Banco BMG e B2W Digital.
"As redes sociais modelaram as pessoas, as empresas, e os sindicatos não escapam à essa necessidade de atualização constante, diante da popularização dos canais de comunicação", observou. "Hoje, cada dirigente, cada trabalhador, carrega no bolso um megafone, uma gráfica, uma câmera, um estúdio de rádio e TV: o celular, ou, como podemos também chamar esse aparelho, 'o novo megafone da luta coletiva'", completou a especialista.
Em outras palavras, a luta coletiva não depende mais dos jornais da grande mídia. "Mas para utilizar os algoritmos em seu favor, os sindicatos devem dominar o uso dessas novas ferramentas, garantir que a voz coletiva seja amplificada e atravesse as fronteiras desejadas", reforçou Nathalia. Em seguida, a especialista foi à pratica com os alunos, a partir da realização de exercícios de produção de vídeos e cards por meio de aplicativos que podem ser manobrados no celular.
A prática também foi o centro das aulas de Brunna Rosa Alfaia, estrategista digital e cientista social, que atua há pelo menos duas décadas com tecnologia, mídias digitais, comunicação popular e mobilização. Ela participou do segundo e último dia do workshop para abordar o tema "Algoritmos e Inteligência Artificial (IA)".
"O Brasil é um dos países mais conectados do mundo, o que torna as redes sociais, hoje, o espaço central da comunicação no país", destacou. "Com destaque de que cada rede exige um jeito próprio para se comunicar, e essas diferenças devem ser dominadas por nós", completou.
Ela acrescentou que a prática é fundamental para alcançar a eficiência na comunicação. "Não é magia, é tecnologia, que só se domina na prática, assim como o movimento sindical só se torna eficiente na mobilização de rua. Mas, neste percurso, da prática, é normal haver erros, publicações que não vão dar certo. Entretanto isso não deve ser motivo para desistir, porque quanto maiores forem os experimentos, maiores as chances de acertar na comunicação”, ressaltou. “E já existem vários casos de sucesso de entidades que dominaram a narrativa indo pra cima, utilizando as diversas ferramentas que hoje estão disponíveis, como a IA", reforçou.
Ainda durante sua participação na oficina, Brunna montou um site, a partir de uma ferramenta de IA. Em seguida, separou os alunos em várias turmas, cada uma responsável por colocar em prática uma campanha de comunicação, com base nas ferramentas de produção de mídia e de IA que foram apresentadas.
Avaliação dos organizadores
A secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa, destacou a importância do workshop. "Entender conceitos e a prática da comunicação estratégica e ágil é fundamental porque, hoje em dia, não basta apenas formar dirigentes sindicais e profissionais da comunicação como base nos temas que defendemos. Temos também que conhecer com profundidade as ferramentas de comunicação e criação, para fazer de cada uma e cada um de nós um comunicador, capacitado a enfrentar a batalha de ideias em curso e numa proporção nunca vista anteriormente", ressaltou. "Saímos desta oficina com o objetivo cumprido, de entender melhor como construir e dar voz às nossas lutas", pontuou.
O secretário de Comunicação da Contraf-CUT, Elias Hannemann Jordão, acrescentou: "Vivemos uma realidade que não tem volta, uma realidade em que as tecnologias, o uso das ferramentas de IA e das redes sociais ganharam uma importância sem precedentes. Ao mesmo tempo que temos que seguir no embate pela regulamentação das plataformas e dos serviços dominados pelas chamadas big techs, temos que estar preparados para usar as redes, conforme as regras determinadas pelas mesmas big techs em suas plataformas, para conseguir enfrentar o embate de igual para igual com os opositores às políticas sociais e trabalhistas que defendemos", explicou. "Diante deste cenário, concluímos como muito positivo todo o aprendizado que tivemos ao final desses dois dias de oficinas", concluiu o dirigente.
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