
Mulheres recebem 21% menos que homens em mais de 54 mil empresas

As mulheres recebem 21,2% menos que homens no Brasil. Em cargos mais elevados, como de dirigentes e gerentes, a diferença chega a 27,1%. Os dados são do 4º Relatório de Transparência Salarial, divulgado na última semana, em Brasília, pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres.
O relatório foi produzido com base em informações de 54.041 empresas, com 100 ou mais empregados, registradas pelos próprios estabelecimentos na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) – totalizando a análise de 19.423.144 vínculos trabalhistas, sendo 30% de mulheres e 70% de homens.
Em termos de valores médios, nos cerca de 54 mil estabelecimentos estudados, a remuneração média das mulheres foi de R$ 3.908,76, contra R$ 4.958,43 dos homens - uma diferença de R$ 1.049,67 (21,2%) a menos que os colegas do sexo masculino.
Em termos de raça, a diferença de remuneração registrada foi ainda maior: trabalhadoras negras recebem cerca de 53,4% menos que homens não negros.
Comparação entre relatórios
Desde a divulgação do 1º Relatório de Transparência Salarial, em março de 2024, até o mais recente, de novembro de 2025, é possível perceber um aumento da desigualdade de remuneração entre homens e mulheres de 1,8 ponto percentual (p.p), como mostra o quadro a seguir:

Vivian Machado, economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), explica que esse aprofundamento no percentual da desigualdade salarial não necessariamente está ligado a uma piora da discriminação de gênero no mercado de trabalho.
"Ao longo desse período de coleta de dados, de seis em seis meses, como manda a legislação, também houve aumento do número de empresas que responderam ao questionário e, portanto, de vínculos trabalhistas analisados. Então, com uma base de dados maior, é possível chegar a um cenário mais fiel à realidade, sobre o nível de desigualdade salarial entre homens e mulheres no Brasil", pontuou.
Houve também piora em relação à diferença salarial entre mulheres negras e homens não negros, e entre mulheres e homens nos cargos mais elevados.
No 1º relatório, as mulheres negras recebiam em média 32% menos que homens não negros. Já no relatório mais recente, elas recebiam 53,4% menos que os colegas do sexo masculino não negros. Nos 2º e 3º relatórios, a redução salarial para as mulheres negras em relação aos homens não negros foram de 47,5% e 52,5%, respectivamente.
Em comparação ao 3º Relatório, publicado no semestre passado, o 4º Relatório apresentou os seguintes resultados positivos:
- Aumento de 21,1% no número de estabelecimentos com pelo menos 10% de mulheres negras: de 29 mil para 35 mil;
- Aumento de 6,4% no número de estabelecimentos com diferença salarial de até 5% entre mulheres e homens: de 16,7 mil para 17,8 mil;
- Redução da diferença salarial das mulheres em relação aos homens, nos cargos de dirigentes e gerentes: em abril de 2025 elas ganhavam 70,2% dos salários dos homens; em novembro de 2025, esse percentual passou para 72,9%.
Conquista para igualdade de gênero
O Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios foi estabelecido em 2023, por meio da Lei de Igualdade Salarial (nº 14.611), de autoria do governo federal. A medida obriga que empresas com 100 ou mais empregados divulgue, semestralmente, informações sobre salários e distribuição de cargos, segmentados por gênero e raça.
A normativa estabelece ainda que as empresas apresentem planos de ações quando forem identificadas diferenças salariais não justificadas. "A Lei de Igualdade Salarial e o Relatório de Transparência são avanços na luta contra a desigualdade de gênero, porque, ao tornar visível os problemas que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, impõe às empresas a criação de mecanismos de combate à discriminação salarial, por raça e gênero", destaca a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.
Segundo o MTE, em 2025, as equipes de fiscalização realizaram 787 ações de combate à desigualdade salarial, atingindo cerca de um milhão de trabalhadores. Dessas ações, 319 foram concluídas e 468 seguem em andamento, resultando na emissão de 154 autos de infração.
Na categoria bancária
Segundo levantamento feito pelo Dieese, com base na RAIS, em 2024 as mulheres recebiam salário 18,6% menor que os dos homens, na categoria bancária.
Naquele mesmo ano, as mulheres pretas bancárias recebiam em média 37,7% menos que a remuneração média de homens não negros.
Já nos cargos de liderança, a remuneração média das mulheres bancárias era 25% inferior à remuneração dos colegas bancários.
Em se tratando dos dados que chegam ao Relatório de Transparência Salarial, a economista Vivian Machado explica que, como a lei obriga que somente empresas com 100 ou mais funcionários respondam ao questionário e, ainda, por CNPJ, são poucos os estabelecimentos bancários registrados no levantamento.
"Ainda não tivemos acesso completo ao 4º relatório, que ainda será divulgado pelos órgãos oficiais. Mas, no 3º relatório, do total de 18.777 estabelecimentos bancários que existiam no país, apenas 277 (1,2%) possuíam mais de 100 trabalhadores", destacou.
Esses estabelecimentos, concentrados nos cinco maiores bancos do país, registraram as seguintes médias de salário de entrada e de remuneração entre mulheres e homens:
Encontre mais notícias relacionadas com os assuntos